sexta-feira, novembro 28, 2008

O mendigo

Outra imagem do mesmo mendigo. Ficou bem diferente. Ele é mais gordo e o rosto é completamente outro.

Auto-retrato


Auto retrato
9 x 12,5 cm
Aquarela sobre papel

Para Meton

Revela-me em surpresa
tua profunda simplicidade.
Que segredos superficiais esconde
em tua distância escura
de desejos abertos
vontades puras
certeza de criador
construindo um sonho
de mundo de traço de cor
e de puro movimento
dança, menino, dança

A casa invisível

A casa no alto do monte
que guarda teu sonho e o meu
não reflete a rígida luz do dia;
As vigas e janelas e telhado,
aos feixes solares não se curvam;
colorem-se à mundana vista
somente sob os difusos raios da poesia.

Que moradia injusta
dos meus sonhos e dos teus!
Fincada assim, nessa ilha inalcançavel.
Um oceano aberto e escuro
rodeia teu abismo insuperável

quinta-feira, novembro 20, 2008

do oculto

Em silenciosa serenata, versa-me:
cantas de longe em ocultas significâncias.
O que há por trás do véu dedicado
que sobre tua cabeça repousa, ondulante?

Sopra-me pétalas pungentes
que perpassam minha alma como neutrinos.
Não os miro, mas furam-me, sinto!;
doce melodia de amor não-declarado!

Máscara da realidade

Viver não se vale senão em partilha
Partilha não se cultiva senão em amor
Parte a única mulher...
Partiu-me, mas não meu coração:
guardo-a em cores e em todos os estímulos
É viva em todos os sentidos.

Quão bonita é a vida, que alegria!
Quão triste é o peito apaixonado!
Quão falsa é a arte, mas alenta...

Desmancha-se a desilusão, sob seu algoz:
os versos pintados em homenagem aos sonhos.
Pois os falsos versos são versos amantes.
Faz da ilusão uma realidade palpável:
estrofes de quem ama
e quer fazer-se nada senão amor.

terça-feira, novembro 18, 2008

FAÍSCA

É tudo de plástico e ainda tudo tem cheiro de podre.

domingo, novembro 09, 2008

Rhipsalidopsis gaertneri (Flor de Outubro)

Escapam-me as canções de primavera
de loiros delírios de desencontro.
Melodia de botânico outubro,
harmonia que afina-se em outro.

Queima-me a pele num arranjo truncado
dum dueto de fagulhas candentes:
não fazem incêndio nem mito
apagam-se na noite inconsequente.

És cactus de precavidos espinhos.
És lume à conveniência de teu coração pendular.
Teu botão cercado se abre tardio,
urge em beleza de mulher do mar.

É-me flor, mas o vaso é-me alheio
Candil cantoria que aflige-me o coração!
Não ouves meu úmido gemido de primavera
enquanto ressecas em outra estação?

sábado, novembro 08, 2008

Não me viva no ontem

Tua figura ainda é-me bruta
adormece numa lealdade misteriosa
se guarda em promessas de mármore.

Tua dureza não se molda ao meu gesto
seca, disfarça tuas fronteiras
que lhe correm em curvas rústicas
escondidas como num rubi de brilho endógeno.

Do passado onde cruzam-se os olhares;
do desejo que brota em puro encanto —
não abrem-se as asas de nosso signo amante:
ele cisca a terra pateticamente
olha para o céu infinito e líquido
e por qualquer boba razão
não se presta a levantar um belo vôo.

Teu fulgor lunar se me capturou
numa noite de loura surpresa
mas intacta, você em pedra permaneceu
deu-me somente o efêmero gosto do momentâneo.

Tua face parcial e longínqua
dissolve-se em cantiga tola:
Me rouba ao passado a flor do agora.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Vestígios de amor intenso

Sob a sombra do fantasma repouso meu cenho ardido.
Demando-me, às ordens da lembrança
dum passado célebre que secou-se em lágrimas,
as alegrias dum amor diurno que anoiteçeu-se em suicídio.

Tenho n'alma as certezas das nuvens
que nunca sussurram as próximas faces ou prantos.
Não sou eu que me vento,
sou alma sozinha colhendo meu próprio tempo.

quarta-feira, novembro 05, 2008

O Pescador e a Mãe D'água



Esta é a capa do livro que ilustrei, O pescador e a Mãe D'água, escrito pela imortal Ana Maria Machado e com design de Luisa Baeta. O tema deusa das águas é explorado por diversas culturas de todos as regiões do mundo, mas essa versão se ambientaliza num clima bem brasileiro. A história é linda, sensível e dramática. Para mim, diz muito sobre a alma humana.

Obrigado, Ana, Luisa e Ricardo Postacchini (editor de arte da Editora Moderna).

O livro já está nas livrarias, para quem quiser mergulhar.

A Mãe D'água



Criei esta imagem em pastel seco durante o processo de definição de linguagem do livro O Pescador e a Mãe D'água, escrito pela Ana Maria Machado. Nesta pintura propus o clima adotado para posteriormente ilustrar o livro.

Aqui a mulher senta-se numa cadeira de madeira na varanda de sua casa, na beira da praia, a contemplar melancolicamente o luar. Até mesmo eu me indago o que lhe faz tão triste...

sábado, novembro 01, 2008

Este é Baguera, o gato que há 3000 anos atrás escreveu o tratado da cadeia alimentar

Baguera
o gato que é uma mancha de nanquim


Bague, Baguelítico
Bague, Baguelítico

Salve o Baguera Baguelítico
que compreendeu as leis da cadeia alimentar
Com uma unha de diamante
em uma lâmina de almofada
Ele escreveu:

"O que está no gato
é como o que está no rato
e o que está no rato
é como o que está no mato",
ele entendeu.